ATA DA OITAVA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 09-4-2002.

 

 


Aos nove dias do mês de abril do ano dois mil e dois, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e vinte e dois minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Júlio Heinzelmann Petersen, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo nº 248/01 (Processo nº 3660/01), de autoria do Vereador Antonio Hohlfeldt. Compuseram a Mesa: o Vereador José Fortunati, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor Paulo Brossard de Souza Pinto, Ministro do Supremo Tribunal Federal - STF; a Senhora Hilda Flores, Presidenta do Círculo de Pesquisas Liberais; o Irmão Elvo Clemente, representante da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUC; o professor Luiz Alberto Sibilis, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul; a Senhora Suzana Brochado, Diretora do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul; o Senhor Júlio Heinzelmann Petersen, Homenageado, e esposa; o Vereador Antonio Hohlfeldt, na ocasião, Secretário "ad hoc". A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Antonio Hohlfeldt, em nome das Bancadas do PSDB, PT, PTB, PMDB, PSB e PPS, teceu considerações sobre a trajetória pessoal e profissional do Homenageado, ressaltando o trabalho desenvolvido por Sua Senhoria como bibliófilo, pesquisador e divulgador da História e da Literatura do Rio Grande do Sul, especialmente no que concerne à Revolução de mil oitocentos e noventa e três, destacando a iniciativa do Homenageado em disponibilizar seu acervo de livros para pesquisadores e historiadores de todo o Estado. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, destacou a justeza da concessão do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Júlio Heinzelmann Petersen, mencionando a atuação do Homenageado como atleta do Sport Club Internacional, do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e como árbitro de futebol, afirmando que a honraria hoje concedida a Sua Senhoria representa o reconhecimento da Cidade de Porto Alegre à atuação do Homenageado em prol da manutenção da História gaúcha. Na ocasião, o Senhor Presidente convidou o Vereador Carlos Alberto Garcia a assumir a presidência dos trabalhos. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou o Vereador Antonio Hohlfeldt a proceder à entrega do Diploma e da Medalha alusivos ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Júlio Heinzelmann Petersen, concedendo a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Título recebido. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e doze minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores José Fortunati e Carlos Alberto Garcia e secretariados pelo Vereador Antonio Hohlfeldt, como Secretário "ad hoc". Do que eu, Antonio Hohlfeldt, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 2º Secretário e Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (José Fortunati): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear o Sr. Júlio Heinzelmann Petersen. Convidamos para compor a Mesa, além do Sr. Júlio Heinzelmann Petersen e sua esposa, o Ex.mo Sr. Ministro do Supremo Tribunal Federal, Paulo Brossard de Souza Pinto; a Sr.ª Presidenta do Círculo de Pesquisas Liberais, Hilda Flores; o Sr. Representante da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Irmão Elvo Clemente; o Sr. Presidente do Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Sul, Professor Luiz Alberto Sibilis; e a Sr.ª Diretora do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, Suzana Brochado.

Temos ainda autoridades representantes de entidades de classe, as Sr.ªs Vereadoras e os Srs. Vereadores, que nos dão a alegria da sua presença. Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

O Ver. Antonio Hohlfeldt está com a palavra, como proponente desta homenagem, e falará pelas seguintes Bancadas: PSDB, PT, PTB, PMDB, PSB e PPS.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente, Sr.ªs Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Muito especialmente quero fazer menção ao Auri, porque também é de Taquara - como o Júlio -, e o Júlio estava muito preocupado em não perder a cidadania de Taquara ao receber a cidadania de Porto Alegre; e ao Gervásio Neves, que conheci como responsável pelo IBGE, mas que é o culpado desta Sessão, junto com todos os seus companheiros do Instituto Histórico Geográfico.

Eu me senti honrado, e quero dizer isso de público, quando fui procurado pelos representantes do Instituto Histórico para ser, na condição de Vereador, aquele que encaminharia este projeto. Senti-me honrado porque particularmente devedor do Júlio, como - eu acho que não erro em dizer - centenas de pesquisadores do Rio Grande e de fora do Rio Grande, que, sempre quando precisaram, tiveram em Júlio Petersen exatamente a fonte da busca e do encontro do material. Evidentemente, me tornava também, aqui, não só este devedor particular – poderia fazer uma homenagem pessoal –mas um devedor que acabara por representar todos os demais devedores. E a prova está, Júlio, na presença deste Plenário, da Mesa e de todas essas pessoas que acorreram a Casa hoje. Vejo aqui o meu querido Professor Lothar Hessel, com quem, ainda um dia desses, trocava umas conversas por carta e telefone; o Professor Luiz Osvaldo Leite, o Professor Moacir Flores; enfim, eu poderia citar aqui tantas e tantas e tantas pessoas que estou reencontrando na tarde hoje, que são um pouco da minha história, mas que são, sobretudo, o depoimento do quanto o Júlio Petersen é importante para todos nós. Eu quero, por isso, recordar aqui palavras de um cronista desta Cidade, Carlos Reverbel, que, na Folha da Tarde de 27 de setembro de 1978, escrevia o seguinte: (Lê.) “Há pessoas que terminam virando instituição. O Júlio Petersen faz parte dessa categoria social formada, geralmente, por gente fora de série.

 A sua metamorfose, passando de simples cidadão a uma verdadeira instituição, verificou-se na medida em que foi tomando vulto a sua rio-grandina, hoje a mais opulenta e valiosa coleção particular de livros e documentos sobre o Rio Grande do Sul. (...) Aliás, o Júlio fez de sua rio-grandina uma missão, sua maneira de servir à sociedade onde vive.”

Certamente cada um de nós conhece alguém - e muitos de nós somos assim - que passa a vida recolhendo livro, recolhendo documento, pesquisando, procurando, mas, certamente, também, a maioria de nós conhece muitos daqueles que, tendo recolhido um acervo fantástico, guarda-o nos armários, de uma certa maneira dizendo assim: “É meu, eu não dou para ninguém, eu não empresto para ninguém, eu não reparto com ninguém.” Acho que isso é ate uma experiência bastante humana, é uma reação, um comportamento bastante humano. Mas o Júlio se destaca exatamente porque ele fez o contrário: ele só não jogou para cima e botou em praça pública porque aí iria se perder o material, as pessoas não teriam o mesmo respeito por esses documentos e por todo esse trabalho que ele teve em buscar e reunir esse material . Mas, certamente, o Júlio Petersen se destaca de todos nós porque ele não só teve a paciência, a perseverança de recolher, de buscar, de procurar, de colecionar, mas, sobretudo, de colocar à disposição de todos.

Quando eu li essas palavras do Carlos Reverbel – vou pedir licença ao meu Presidente para estender-me um pouquinho mais para completar o meu pronunciamento, já que tive a honra de ser indicado por tantas Bancadas aqui nesta representação -, fiz questão de encaminhá-las no processo que tramitou nesta Casa. E rapidamente, lembrei-me, Júlio, que muitas vezes, nesta Cidade e em tantas cidades que vamos visitando e vamos conhecendo, quando paramos frente a um monumento – e aqui estou falando em monumento físico, literalmente –, ficamos pensando: “Quem é esse sujeito, particularmente, individualmente, que mereceu uma homenagem? Quem está por trás dessa pedra que nós, de uma certa maneira, estamos, por meio dela, recordando alguém? Quem é esse sujeito?”

Hoje, nesta tarde, contando com a figura de uma outra pessoa, pela qual eu tenho profundo respeito, que é o Sérgio Costa Franco, também um outro cronista deste Estado e desta Cidade, nós temos a oportunidade de ver um monumento vivo e temos a possibilidade de saber da sua história pessoal, particular, acompanhado de seus familiares. Essa pessoa, nós temos a oportunidade de, aqui, não recordar, mas homenagear, na sua própria presença.

Evidentemente é muito bom nós termos a memória daqueles que contribuíram com a nossa história, mas é muito melhor se, além dessa memória, nós podemos fazer a homenagem com essas pessoas ainda vivas. Acho que, para além, portanto, da alegria, da honra que tive em ser escolhido pelo Instituto Histórico Geográfico para fazer o encaminhamento deste processo, eu tenho, hoje, a alegria de poder fazer esta homenagem da representação da Cidade, desta Casa, com os demais companheiros Vereadores, alguns dos quais vão aqui se manifestar, tendo ainda o Júlio Petersen conosco, e com excelente saúde. Eu dizia à Dona Nancy: “O Júlio está muito bem, a praia lhe faz bem, o pó dos livros lhe faz bem, ajuda, é uma vitamina a mais, com toda a certeza, e sobretudo nós temos a garantia de que vamos continuar contando com o Júlio durante muito tempo.”

Fiz uma combinação com o Ver. Reginaldo Pujol de que eu pegaria pela esquerda, da literatura, e ele vai, depois, pegar pelo centro, do futebol.

Portanto, eu fico parando por aqui, com este registro, dizendo mais uma vez que Porto Alegre se sente hoje enriquecida por ter mais um cidadão: Júlio Petersen. Obrigado, Júlio, por aceitares esta nossa homenagem. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (José Fortunati): O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra em nome da Bancada do Partido da Frente Liberal.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Em verdade eu disse ao Ver. Antonio, quando li a exposição de motivos com a qual ele encaminhou o Projeto de Lei que redundaria na outorga da Cidadania Honorária de Porto Alegre a Júlio Heinzelmann Petersen, que ele havia demonstrado com a pena a habilidade que os grandes mestres da arte cênica conseguem desenvolver. Realmente, quem como eu é aficionado pelo futebol sabe que nada mais empolga ou entristece a um torcedor do que o sucesso e o insucesso do seu guarda-vala, especialmente, quando a bola é dirigida ao seu time do coração. Nesta Casa todos sabem e algumas pessoas que daqui não são, como o Professor Leite, o sabem por outras razões que nasci distante daqui. Sabe bem o Professor Paulo Brossard de Souza Pinto, que eu sou cria do Quaraí. Que as letras para mim não apareceram de forma muito clara nos primeiros momentos, porque me apareciam mais impressos em espanhol do que propriamente no português. A minha querida e distante Cidade, a mais de 600 km de Porto Alegre, era dividida por um oceano, que eram as estradas de péssima conservação e uma viação férrea que teimava em não chegar diariamente na cidade, lá chegando apenas três vezes por semana. Por isso, é natural que eu tenha conversado com o Ver. Antonio Hohlfeldt no sentido de que dividíssemos a abordagem da homenagem que hoje se faz a esse homem amante das letras e que foi uma glória indiscutível do desporto gaúcho, especialmente porque conseguiu algo absolutamente impensável, naqueles momentos iniciais do futebol profissional no Rio Grande do Sul: ser, durante um tempo, o guardião da meta colorada para posteriormente ser o responsável pela última barricada da grei tricolor.

Pois, o Júlio Heinzelmann Petersen, que hoje Porto Alegre, com justiça, transforma em Cidadão de Porto Alegre é alguém de que eu, lá na minha Quaraí, ouvi falar pelos idos de 49, penso eu, ano em que o meu glorioso Grêmio Porto-Alegrense se sagrou campeão.

Hoje, o Dorval Ângelo Ferreira, jeronimense, que nos dá a alegria da sua presença, me sustentou que aquela equipe vencedora, Julio Heinzelmann, era constituída por: Júlio, Clarel e Joni; Jorge, Touguinho e Sanguineti, Bem-te-vi, Beresi, Prego - disse ele, e eu digo, que era Geada -, Marimba e Gaiteiro. Eu, desde aquele momento, lá distante de Quaraí, comecei a imaginar o que era essa figura mítica do Júlio, que havia sido um valoroso defensor da meta do meu clube do coração e nos levado à vitória naquele tempo, em que os nossos adversários eram fortes e poderosos, eis que enfrentávamos o famoso rolo compressor. Passaram-se cinqüenta anos, cinqüenta e dois anos e hoje eu estou aqui na tua frente, com muita honra, em nome do meu Partido, Partido da Frente Liberal, dizendo que a coisa mais positiva que alguém pode ter na vida,  e ouvíamos isso lá na escola, nos primórdios de Quaraí, depois no Colégio D. João Becker e se repetia com muita freqüência na nossa PUC, que era preciso ter mens sana in corpore sano: era preciso ter uma mente sã num corpo são. E o amor aos livros e à prática de esportes transformam o novo Cidadão de Porto Alegre num exemplo vivo dessas qualidades. Aliás, o meu consultor de assuntos antigos, o Dorval, pediu-me que eu dissesse que ele não esqueceu, Júlio, que no ano 50, um pouco antes daquela debacle do Maracanã, tu chegaste lá em São Jerônimo, num auto de praça Chevrolet 39, cinza, conduzido pelo Presidente da Liga Jeronimense de Futebol, o nosso querido Ari dos Santos, para conduzir uma partida especialíssima: a decisão do campeonato da cidade, realizado numa terça-feira, em que foi decretado feriado municipal, porque o campeonato da cidade tinha ficado literalmente empatado entre o Grêmio Esportivo São Jerônimo e o Rio-Grandese. E que o Grêmio São Jerônimo, para desagrado do Dorval, foi vitorioso por 2X1. E até hoje ele tem na mente – tinha quatorze anos naquela época – que foi por um erro na condução de arbitragem, coisa comum a todos os perdedores - eu nunca vi um perdedor dizer que o árbitro foi feliz na arbitragem.

Então, Júlio, espero que tu entendas que esta forma descontraída como eu estou conduzindo a homenagem e a palavra do meu Partido, PFL, nesta Sessão Solene, é uma decorrência e uma conseqüência dessa tua personalidade, de certa forma ambígua, eis que amante das letras e grande vulto do esporte no Estado do Rio Grande do Sul. Tu, que foste jogador de futebol, grande goleiro e sobretudo um grande árbitro, que, apesar dessa dissintonia, foi respeitado pela crônica esportiva da época, que te consagrava como melhor árbitro do Estado do Rio Grande do Sul. E é coisa muito difícil, nessa atividade, um reconhecimento generalizado.

Por isso quero, ao finalizar, dizer que te saudamos como Cidadão de Porto Alegre, numa homenagem ao homem que jogou futebol na várzea de Porto Alegre, que jogou no Fortaleza da Rua Lima e Silva, que jogou no Sport Club João Alfredo, cuja sede era ao lado do Restaurante Copacabana, suspeito até que muito próximo da casa do Geraldo Heinzelmann, que jogou no Teresópolis, que jogou no Ascot da Praça Daltro Filho, e que em todos esses lugares onde praticou esporte se fez querido, respeitado e reconhecido. Essas foram, no meu entendimento, as credenciais ocultas que te credenciaram, de forma muito expressiva, a merecer a unanimidade da Câmara Municipal de Porto Alegre, que gremistas e colorados, cada um pelas suas razões, entenderam de consagrar, pelo voto, a outorga da cidadania proposta pelo meu querido Antonio Hohlfeldt, grande protagonista desta homenagem.

O PFL, que represento nesta hora, te saúda, como uma das glórias do desporto rio-grandense, especialmente numa sociedade como a nossa, que desconhece valores, e que, um dia, pode - por que não? - chegar tranqüila e ver homens e mulheres comparecerem em massa para uma homenagem, que se pretendeu simples, mas cheia de carinho humano, e, sobretudo, com grande reconhecimento.

Meus cumprimentos e muito obrigado, porque a tua presença na galeria de cidadãos honorários de Porto Alegre vai-nos permitir que tenhamos um exemplo muito vivo, ao lado de outros tantos cidadãos honorários que temos, ilustres, como o meu querido Professor Paulo Brossard de Souza Pinto, de um homem que foi no esporte e nas letras um exemplo a ser respeitado e reconhecido. Muito obrigado, Júlio, e meus parabéns.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): Convidamos o Ver. Antonio Hohlfeldt a proceder à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Sr. Júlio Petersen.

 

(Procede-se à entrega do Diploma e da Medalha alusivos ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre.)

 

E agora, mais do que justo e merecido, passamos a palavra ao nosso novo Cidadão Honorífico da Cidade de Porto Alegre, Sr. Júlio Heinzelmann Petersen.

 

O SR. JÚLIO HEINZELMANN PETERSEN: Sr. Presidente, Sr.ªs Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Ao iniciar esta fala, quero agradecer as palavras a mim dirigidas pelo Ver. Antonio Hohlfeldt, proponente da honraria que me está sendo concedida, e agradecer à distinta Câmara Municipal que a aprovou.

Desejo, igualmente, expressar minha gratidão a quem sugeriu esse honroso Título e obteve unânime aprovação dos seus pares, refiro-me ao meu bom amigo Miguel Frederico do Espírito Santo. A ele e aos demais integrantes do Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Sul, meu profundo reconhecimento. Muito obrigado a todos pela grande alegria que me proporcionam neste momento.

Em Porto Alegre, vivi a maior parte de minha vida: meus afetos, meu trabalho, minhas alegrias e minhas lutas. Acompanhei, no dia-a-dia, a sua história nos últimos setenta anos e nela tenho entrelaçadas as minhas memórias e, portanto, minha própria identidade. Além disso, por amor à história do Rio Grande do Sul, desde muitos anos, o estudo do passado de Porto Alegre, a preservação e a divulgação de sua história também sempre estiveram presentes na minha vida, como um dever para com a minha terra e como um prazer para mim.

Se esta Cidade, por meio de seus representantes eleitos, acolhe-me como seu cidadão - e não me cabe avaliar meus possíveis méritos para isso -, só posso expressar minha emocionada gratidão por esta imensa honra que levarei ao lado da minha querida cidadania de filho da Taquara do Mundo Novo, onde nasci em 30 de abril de 1918.

Como nossa identidade é feita também de memórias, permitam que este agora mais novo Cidadão de Porto Alegre relate um pouco suas origens e atividades. Embora a generosa saudação do Ver. Antonio Hohlfeldt já tenha versado sobre isso, minhas palavras, que serão breves, têm a intenção de trazer para dentro dessa homenagem algumas pessoas e acontecimentos que gostaria de lembrar e a ela associar.

Em primeiro lugar, quero recordar meus pais já falecidos, Silvia Heinzelmann e João Libório Petersen, raízes sólidas e amorosas no lar em que cresci, em seguida, toda a minha família, felizmente, bastante extensa, e os inúmeros amigos e amigas que têm sido fonte de apoio, alegria, vitalidade e renovação durante minha vida. O Ver. Reginaldo Pujol observou que o futebol foi uma das atividades a que me dediquei por muitos anos, por isso quero lembrar um pouco da minha trajetória de goleiro nas duas grandes equipes de Porto Alegre. Como o futebol é um esporte coletivo, no momento em que recebo essa distinção, desejo recordar também alguns dos companheiros que estiveram ao meu lado naqueles anos. Iniciei a jogar futebol em Taquara, na equipe juvenil do Esporte Clube Taquarense. Mas era tão perna-de-pau, que somente me permitiam participar dos treinos e jogos se eu ocupasse a posição de goleiro. Assim, curiosamente, essa foi a razão de eu vir ocupar a posição onde sempre iria atuar no futebol.

Quando vim estudar em Porto Alegre, em 1936, antes de me matricular no Colégio N. S.ª do Rosário, assinei ficha para a equipe juvenil no Sport Club Internacional. Primeiro joguei na categoria do terceiro time, pela qual fui campeão em 1937, e, a seguir, ingressei na equipe principal como reserva, passando a titular no ano seguinte. Integrei a equipe que conquistou o título de campeão da Cidade e do Estado nos anos de 1940 e 1941, e vice-campeão em 1938 e 1939. Permaneci no Sport Club Internacional até 1942. Homenageando o clube e meus companheiros da época, mencionarei alguns atletas com quem convivi, na certeza de que sempre se cometem injustiças em tais citações, já que muitos outros também deveriam ser também lembrados. Mas nessa oportunidade quero estar de novo acompanhado pelos ex-jogadores: Risada, Levy, Russinho, Alfeu, Ávila, Abigail, Castilho, Miguel, Brandão, Silvio Pirilo, Ruy, Tesourinha e o meu amigão Carlitos.

Em 1943 ingressei no Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense, permanecendo até fins de 1949, sempre no tradicional campo da baixada, onde nosso time conquistou o título de campeão da Cidade e do Estado no ano de 1946, e vice-campeão no ano de 1943 e 1944. Também dirigi tecnicamente a equipe juvenil quando obtivemos campeonatos relativos a 1945 e 1946. Igualmente rendo homenagem ao clube e aos companheiros de tempos passados, lembrando Clarel, Ruy, Jony, Danton, Hugo, Touguinha, Segura, Massinha, Geada e meu conterrâneo Sergio Moacir Torres.

Tive a honra e o orgulho de integrar o selecionado gaúcho nos anos de 1943, 1944 e 1946, quando foram meus companheiros, entre outros, Cardeal, Vaz, Alfeu, Nena, Àvila, Adãozinho, Tesourinha, Luizinho e Ilmo Fleck, Clarel, Hugo e Jony.

Em 1949, fui o primeiro gaúcho a ser agraciado com o prêmio Belfort Duarte, concedido pela Confederação Brasileira de Esportes aos atletas que não sofressem qualquer punição durante cinco anos consecutivos na prática de futebol. Em 1950, recebi o título de Atleta Laureado pelo Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense. Ao longo desses anos, ao lado do esporte, sempre trabalhei no comércio desta Capital, conseguindo conciliar ambas atividades.

A outra referência do Ver. Antonio Hohlfeldt em sua saudação foi sobre minha biblioteca de temas sul-rio-grandenses, e a respeito dela também desejo dizer algumas palavras, pois tem sido não só um dos centros da minha vida, como talvez o meio por meio do qual eu tenha contribuído mais efetivamente para esta Cidade.

Embora um leitor infatigável desde a juventude, percorrendo os quadrinhos do Globo Juvenil, os folhetins e os romances de capa-e-espada, o que hoje é um importante acervo bibliográfico que teve início quando recebi de meu cunhado Nery Canhada o livro “Voluntários do Martírio”, de Angelo Dourado, e então, muito interessado em conhecer os detalhes da cruenta Revolução de 1893, dei início à procura de obras que ampliassem meu conhecimento sobre o tema. Daí passei ao estudo de outros movimentos armados em que as forças rio-grandenses participaram. Assim fui aumentando meu campo de interesse e pesquisas dentro da história do Rio Grande do Sul e adquirindo livros e outros materiais, cuja temática se estendeu à literatura, às ciências, imprensa periódica, documentos, fotografias, manifestações culturais de todos os tipos, etc.

Enfim, fui formando uma coleção extensa e democrática no sentido de que abriga todos os tipos de publicações, ramos de conhecimento e tendências de análise que se referem à história do Rio Grande do Sul.

Sobre Porto Alegre, por exemplo, e sem desconhecer os ilustres historiadores que se dedicaram ao estudo da nossa Capital, e que deixo de citar para não cometer omissões, tive a sorte de localizar e adquirir obras tão diversas por seu valor documental como as três que cito: “Coisas Municipais”, de Manoel Felicíssimo de Azevedo, publicada em 1884, que, em suas duzentas páginas, apresenta uma crítica às irregularidades e problemas então existentes em Porto Alegre, a juízo do autor, sugerindo as soluções possíveis a cada uma das questões denunciadas.

Também quero mencionar “A Crônica de Porto Alegre”, um conjunto de crônicas escritas por José Cândido Gomes, sob pseudônimo de “Estudante”, publicadas no jornal O Mercantil, durante os anos de 1851 a 1852. Essas crônicas narram, de modo satírico, o dia-a-dia da Cidade, envolvendo sua vida social, política e econômica, namoros que se entabulavam, bailes e espetáculos teatrais que a Cidade abrigava, e charadas e cartas enigmáticas para a diversão de seus leitores. Posteriormente, as crônicas foram encadernadas, rendendo o volume de setecentas e dezesseis páginas que possuo.

Para finalizar esses poucos exemplos, cito ainda o “Guia Geral de Assinantes”, da Companhia Telefônica Rio-Grandense, editado em 1917, possivelmente o mais antigo desses guias, com suas trezentas e quarenta páginas de registro de usuários e fortíssima propaganda relativa à indústria, comércio e profissões existentes na época.

O relato da formação dessa biblioteca rio-grandina seria bastante longo, cheio de curiosidades sobre a procura e aquisição de algumas obras, e de pessoas que conheci e me tornei amigo nesse percurso. Mas isso seria assunto tão longo e tão do meu agrado que esqueceria o tempo conveniente. Por isso, quero apenas destacar que o acervo, hoje com aproximadamente vinte e sete mil itens, embora constituído e organizado nos limites dos meus próprios recursos, tem servido de fonte de pesquisa para centenas de pesquisadores, professores, mestrandos e doutorandos, alunos e estudiosos de todos os níveis, não só de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, como de outros Estados do Brasil e do exterior. Também tem fornecido material para reedição de obras raras, para exposições temáticas organizadas por diferentes instituições, isso não mencionando as inúmeras gincanas que tanto alegram a nossa Capital e que volta e meia recorrem aos livros que tenho colecionado. Enfim, creio que a biblioteca que formei tem prestado um serviço muito relevante à preservação e divulgação da História do Rio Grande do Sul, e como filho desta terra e agora Cidadão de Porto Alegre, muito me orgulho de estar contribuindo neste sentido, tarefa que ao mesmo tempo tem me proporcionado a insubstituível alegria de ser leitor e de ser útil aos que me procuram.

Já devo ter ultrapassado o tempo que me foi concedido, e por isso quero concluir, agradecendo mais uma vez a todos que estão compartilhando esta ocasião tão memorável de minha vida, e fazendo meus os versos de Mário Quintana, quando diz:

“Não me constranjo de sentir-me alegre /  De amar a vida assim, por mais que ela minta /  Eu sei que nestes céus de Porto Alegre / É para nós que São Pedro ainda pinta / Os mais belos crepúsculos do mundo.” Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): Ao Sr. Júlio, agora já como Cidadão de Porto Alegre, queremos dizer que esta Casa sente-se muito orgulhosa de ver uma pessoa com a sua trajetória receber esse Título, que foi concedido por unanimidade.

Queremos parabenizar o Ver. Antonio Hohlfeldt por essa iniciativa. E hoje houve uma dobradinha muito boa dos dois Vereadores, um o lado intelectual e outro o lado esportivo. E agora eu vou me despir um pouco da minha condição de Vereador, vou falar como professor de Educação Física e dizer que, quando o Ver. Reginaldo Pujol falou lá da região de Quaraí, onde ele nasceu, que era um pouco espanhol, um pouco português, e ele teve uma passagem pelo Instituto União, dos metodistas, lá em Uruguaiana, lembrei-me que, quando o senhor veio para cá, o IPA aqui, em 1937, estava fazendo o seu majestoso estádio. E sabemos como foram o IPA e o Rosário naquela época. Também queremos dizer que o senhor é daquelas pessoas que conseguem mostrar que, muitas vezes, existem aquelas quebras de paradigma entre a atividade física e a intelectualidade. E o Ver. Reginaldo Pujol falou com propriedade: mens sana in corpore sano. E o senhor conseguiu fazer isso com brilhantismo ao longo da sua vida; um corpo são, um atleta exemplar, como foi, e recentemente tivemos a oportunidade de falar em seu nome com uma pessoa pela qual tenho um grande carinho, que é o Professor Silvino Rodrigues, foi o técnico do Renner, e foi o primeiro que venceu a dupla Gre-Nal, e o senhor consegue então, um modelo exemplar de atleta, vivenciando os dois clubes. O senhor sabe a dificuldade disso, porque é o ódio e o amor ao mesmo tempo, e o senhor é um intelectual, mostrando que é perfeitamente possível casar atividades esportivas e intelectualidade.

Veja o olhar de seus amigos que se encontram aqui. Todos eles estão felizes em poder abraçá-lo.

A Câmara Municipal de Porto Alegre sente-se muito honrada. Parabéns Ver. Antonio Hohlfeldt por essa brilhante iniciativa. É de cidadãos assim que Porto Alegre precisa e, realmente, deve reverenciá-los.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Executa-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 18h12min.)

 

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